quarta-feira, 30 de maio de 2012

Amélia Rodrigues - Biografia


Amélia Augusta do Sacramento Rodrigues (Amélia Rodrigues)
1861-1926

Foto e Texto de Ismael Gobbo
Amélia Rodrigues Mentora de Divaldo Franco-Salve!
Imagem da Internet

Mais conhecida como Amélia Rodrigues, foi, quando encarnada, notável poetisa, professora emérita, escritora consagrada, teatróloga, legítimo expoente cultural das Letras na Bahia.
Amélia Augusta do Sacramento Rodrigues nasceu na Fazenda Campos, freguesia de Oliveira dos Campinhos, Município de Santo Amaro da Purificação, no Estado da Bahia, em 26 de maio de 1861. Era filha de Felix Rodrigues e D. Maria Raquelina Rodrigues.
Qualquer de seus conterrâneos, por mais jovem que seja, conhece a vida dessa extraordinária mulher, de seu esforço a fim de chegar aos seus ideais. Estudou com o Cônego Alexandrino do Prado, em seguida foi aluna dos Professores Antônio de Araújo Gomes de Sá e Manuel Rodrigues M. de Almeida. Sua vocação para o magistério era inata. A par disso matriculou-se no Colégio mantido pela professora Cândida Álvares dos Santos e começou a lecionar no Arraial da Lapa.
Alguns anos depois, enfrentou um concurso, disputando uma vaga para lecionar em Santo Amaro da Purificação. Sendo aprovada, lecionou ali por oito anos consecutivos.
Em 1891, pelo seu amor à causa do ensino, conquistou mais uma vitória. Diante de sua capacidade ímpar na tarefa de ensinar, pelo grande conceito na comunidade, foi transferida para Salvador, sendo lotada na Escola Central do bairro Santo Antonio.
Um de seus alunos, adolescente ainda, em 1905, foi selecionado para lecionar inglês pelo sistema do filósofo Spencer. Amélia Rodrigues não só o ajudou a compreender o pensamento daquele filósofo, como complementou o seu aprendizado. Disse a ele:
"O jovem precisa de educação moral que é o princípio fundamental da disciplina social; sem apelar para o coração, educar é formar no homem as mais duradouras forças da ordem social."
O pensamento de Amélia Rodrigues se identifica com o pensamento de Fénelon, contido em "O Evangelho segundo o Espiritismo", que solicita a certa altura: "Educar é formar homens de Bem, e não apenas instruí-los."
No Plano Espiritual continuou seu trabalho esclarecedor e educativo, baseada principalmente no Evangelho de Jesus, fonte inspiradora, quando encarnada, para muitos dos seus trabalhos.Desencarnada, encontrou na Espiritualidade - seara infinita da imortalidade - maior expansão para seu Espírito sequioso de conhecimento e faminto de amor, dando vazão aos anseios mais nobres, aprofundando-se na Mensagem de Jesus, e, na atualidade, participando da falange de Joanna de Ângelis, mentora de Divaldo Pereira Franco. Pela psicografia do abnegado medianeiro, vem trazendo páginas de beleza intraduzível, abordando os mais variados assuntos sobre o Evangelho, tema predileto, extraindo lições edificantes para aqueles que estão cansados e sobrecarregados, consolando e instruindo os seus leitores, tendo brindado o Movimento Espírita com as seguintes obras:

Até o fim dos tempos
Há flores no caminho
Luz do mundo
O Semeador (infantil)
Pelos caminhos de Jesus
Primícias do reino
Quando voltar a primavera
Trigo de Deus

Quando de sua aposentadoria, foi difícil ficar repousando. O seu ideal de ensinar continuava vivo. Recuperadas as suas energias, retornou ao Magistério, de forma ainda mais marcante. Nessa oportunidade foi responsável pela fundação do Instituto Maternal "Maria Auxiliadora", que mais tarde transformou-se na "Ação dos Expostos".
Aproveitando o tempo disponível, dedicou-se à literatura e ao jornalismo, colaborando em publicações religiosas, entre as quais: "O Mensageiro da Fé". Depois, na revista " A Paladina" e, mais tarde, em " A Voz".
Escreveu algumas peças teatrais, entre as quais "Fausta" e "A Natividade". Colaborou ainda com poesias: "Religiosa Clarisse" e "Bem me Queres". Escreveu ainda obras para literatura infantil, didáticas e romances.
Amélia Rodrigues desencarnou em Salvador, com 65 anos de idade, em 22 de agosto de 1926, deixando a sua marca de trabalho inigualável, tanto na Educação como na Literatura e na Assistência Social.

Fonte: Até o fim dos tempos, ed. Leal, 2000

domingo, 27 de maio de 2012

Irmãs Fox



 
Em 11 de dezembro de 1847, a família Fox instalou-se em modesta casa no vilarejo de Hydesville, Estado de New York, distante cerca de 30 km da cidade de Rochester.

O nome da família Fox origina-se do sobrenome Voss, depois Foss e finalmente Fox. Eram de origem alemã, da parte paterna; e francesa, holandesa e inglesa, da parte materna. Seus antecessores foram notoriamente dotados de faculdades paranormais.

O grupo compunha-se do chefe da família, Sr. John D. Fox, da esposa D. Margareth Fox e mais duas filhas; Kate, com 7 anos e Margareth, com 10 anos. O casal possuia mais filhos e filhas. Entre estas, convém destacar Leah, que morava em Rochester, onde lecionava música. Devido aos seus casamentos, foi sucessivamente conhecida como Mrs. Fisch, Mrs. Brown e Mrs. Underhill.

Leah escreveu um livro, "The Missing Link", New York, 1885, no qual ela faz referência as faculdades paranormais de seus parentes anteriores. Inicialmente, tomaram parte nos acontecimentos somente Kate e Margareth, mas posteriormente Leah juntou-se a elas e teve participação ativa nos episódios subseqüentes ao de Hydesville.

A CASA DE HYDESVILLE JÁ ERA ASSOMBRADA




Lucretia Pulver era jovem que servira como dama de companhia do casal Bell, quando elas habitavam a referida casa até 1846. Ela contou uma curiosa história de um mascate que se hospedara com os Bells. Na noite em que o vendedor passou com aquele casal, Lucretia foi mandada a dormir na casa dos pais. Três dias depois tornaram a procurá-la. Então disseram-lhe que o mascate fora embora. Ela nunca mais viu esse homem.

Depois disso, passado algum tempo, aproximadamente em 1844, começaram a dar-se fenomenos estranhos naquela casa. A mãe de Lucretia, Sra. Ann Pulver, que mantinha relações com a família Bell, relata que, em 1844, quando visitara a Sra. Bell, indo fazer tricô em sua companhia, ouvira desta uma queixa, Disse-lhe que se sentia muito mal e quase nao dormia à noite. Quando lhe perguntou qual a causa, a Sra. Bell declarou que se tratava de rumores inexplicáveis; parecera-lhe ter ouvido alguém a andar de um quarto para outro; acordou o marido e fe-lo levantar-se e trancar as janelas. A princípio, tentou afirmar à Sra. Pulver que possivelmente se tratasse de ratos. Posteriormente, confessou não saber qual a razão de tais rumores, para ela inexplicáveis.

A jovem Lucretia Pulver também testemunhou os fenômenos insólitos observados naquela casa. Os Bells terminaram por mudar-se.

Em 1846, instalou-se ali a família Weekman: Sr. Michael Weekman, Sra. Hannah Weekman e suas filhas. Alguns dias após terem-se alojado na referida casa, passaram a ser perturbados por ruídos insólitos: batidas na porta da entrada, sem que ninguém visível o estivesse fazendo; passos de alguém andando na adega ou dentro de casa. A família Weekman, como era de esperar-se, não permaneceu muito tempo naquela casa sinistra. Em fins de 1847 deixou-a vaga, saindo de lá definitivamente.

Desse modo, atingimos a data de 11 de dezembro de 1847, quando a referida casa passou a ser ocupada pela família Fox, conforme já mencionamos no início deste artigo.

A NOITE DAS PRIMEIRAS TRANSCOMUNICAÇÕES

Inicialmente os Fox não sofreram nenhum incômodo em sua nova residência. Entretanto, algum tempo depois, mais precisamente nos dois primeiros meses de 1848, os mesmos ruídos insólitos que perturbaram os antigos inquilinos voltaram a manifestar-se outra vez. Eram batidas leves, sons semelhantes aos arranhões nas paredes, assoalhos e móveis, os quais poderiam perfeitamente ser confundido com rumores naturais produzidos por vento, estalos do madeiramento, ratos, etc. Por isso a família Fox não deveria ter-se sentido molestada ou alarmada. Entretando, tais ruídos cresceram de intensidade, a partir de meados de março de 1848. Batidas mais nítidas e sons de arrastar de móveis começaram a fazer-se ouvir, pondo as meninas em sobressalto, ao ponto de negarem-se a dormir sozinhas no seu quarto, e passarem a querer dormir no quarto dos pais. A princípio os habitantes da casa, ainda incrédulos quanto à possível origem sobrenatural dos ruídos, levantavam-se e procuravam localizar a causas natural dos mesmos.

Na noite de 31 de março de 1848, desencadeou-se uma série de sons muito forte e continuados. Aí, então, deu-se o primeiro lance do fantástico episódio, que ficou como um marco inamovível na história da fenomenologia paranormal. A garota de sete anos de idade - a Kate Fox - em sua espontaneidade de criança teve a audácia de desafiar a "força invisível" a repetir, com os golpes, as palmas que ela batia com as mãos! A resposta foi imediata, a cada estalo um golpe era ouvido logo a seguir! Ali estava a prova de que a causa dos sons seria uma inteligência incorpórea. Para apreciar-se bem o sabor desta incrível aventura, vamos transcrever alguns trechos do depoimento da Sra. Margareth Fox.

"Na noite de sexta-feira, 31 de março de 1848, resolvemos ir para a cama um pouco mais cedo e não nos deixamos perturbar pelos barulhos; íamos ter uma noite de repouso. Meu marido que aqui estava em todas as ocasiões, ouviu os ruídos e ajudou a pesquisar.
Naquela noite fomos cedo para a cama - apenas escurecera. Achava-me tal alquebrada e com falta de repouso que quase me sentia doente. Meu marido não tinha ido para a cama quando ouvimos o primeiro ruído naquela noite. Eu apenas me havia deitado. A coisa começou como de costume. Eu distinguia de qualquer outro ruído jamais ouvido. As meninas, que dormiam em outra cama no quarto, ouviram as batidas e procuraram fazer ruídos semelhantes, estalando os dedos. Minha filha menor, Kate, disse, batendo palmas: "Senhor Pé Rachado, Faça o que eu faço." Imediatamente seguiu-se o som, com o mesmo número de palmadas. Quando ela parou, o som logo parou. Então Margareth
disse brincando: "Agora faça exatamente como eu. Conte um, dois, três, quatro" e bateu palmas. Então os ruídos se produziram como antes. Ela teve medo de repetir o ensaio. Então Kate disse, na simplicidade infantil: "Oh! mamãe! eu já sei o que é. Amanhã é
primeiro de abril e alguém quer nos pregar uma mentira." "Então pensei em fazer um teste que ninguém seria capaz de responder. Pedi que fossem indicadas as idades de meus filhos, sucessivamente. Instantaneamente foi dada a exata idade de cada um, fazendo pausa de um para outro, a fim de separar, até o sétimo, depois do que se fez uma pausa maior e três batidas mais fortes foram dadas, correspondendo a idade do menor, que havia morrido.

"Então perguntei: Eh um ser humano que me responde tão corretamente? Não houve resposta. Perguntei: É um espírito? Se for, de duas batidas. Duas batidas foram ouvidas assim que fiz o pedido. Então eu disse: Se for um espírito assassinado dê duas batidas. Essas foram dadas instantaneamente, produzindo um tremor na casa. Pergutei: Foi assassinado nesta casa? A resposta foi como a precedente. A pessoa que o assassinou ainda vive? Resposta idêntica, por duas batidas. Pelo mesmo processo verifiquei que fora um homem que o assassinaram nesta casa e os seus despojos enterrados na adega; que a família era constituída de esposa e cinco filhos, dois rapazes e três meninas, todos vivos ao tempo de sua morte, mas que depois a esposa morrera. Então perguntei: Continuará a bater se chamarmos os vizinhos para que também escutem? A resposta afirmativa foi alta."

Desse modo foram chamados vários vizinhos, os quais por sua vez convocaram outros, de maneira que, mais tarde e nos dias subseqüentes, o número de curiosos era enorme. Naquela noite compareceram o Sr. Redfield, o Sr. e Sra. Duesler e os casais Hyde e Jewell.

"Mr. Duesler fez muitas perguntas e obteve as respostas. Em seguida indiquei vários vizinhos nos quais pude pensar, e perguntei se havia sido morto por algum deles, mas não obtive resposta. Após isso, Mr. Duesler fez perguntas e obteve as respostas. Perguntou: Foi assassinado? Resposta afirmativa. Seu assassino pode ser levado ao tribunal? Nenhuma resposta. Pode ser punido pela lei? Nenhuma resposta. A seguir disse: Se seu assassino não pode ser punido pela lei de sinais. As batidas foram ouvidas claramente. Pelo mesmo processo Mr. Duesler verificou que ele tinha sido assassinado no quarto do leste, a cinco anos passado, e que o assassínio fora cometido à meia noite de uma terça-feira, por Mr......; que fora morto com um golpe de faca de açougueiro na garganta; que o corpo havia sido enterrado; tinha passado pela dispensa, descido a
escada e enterrado a dez pés abaixo do solo. Também foi constatado que o móvel fora dinheiro.

"Quanta a quantia: cem dólares? Nenhuma resposta. Duzentos? Trezentos? etc. Quando mencionou quinhentos dólares as batidas confirmaram. "Foram chamados muitos dos vizinhos que estavam pescando no ribeirão. Estes ouviram as mesma perguntas e respostas. Alguns permaneceram em casa naquela noite. Eu e as meninas saímos. Meu marido ficou toda a noite com Mr. Redfield. No sábado seguinte a casa ficou superlotada. Durante o dia não se ouviram os sons, mas ao anoitecer recomeçaram. Diziam que mais de trezentas pessoas achavam-se presentes. No domingo os ruídos foram ouvidos o dia inteiro por todos quantos se achavam em casa".

Estes são os principais trechos do depoimento da Sra. Margareth Fox, que mais nos interessam para dar uma descrição viva dos acontecimentos de Hydesville, na sinistra noite de 31 de março de 1848.

AS ESCAVAÇÕES NA ADEGA

Os mais interessados em esclarecer o caso resolveram escavar a adega, visando encontrar os despojos do suposto assassinado. Eis que, através de combinação alfabética com as pancadas produzidas, chegaram à identidade da vítima. Tratava-se de um mascate de nome Charles B. Rosma, o qual tinha trinta e um anos quando, há quatro anos passado, fora assassinado naquela casa e enterrado na adega. O assassino fora um antigo inquilino. Só poderia ter sido o Sr. Bell... Mas onde a prova do fato, o cadáver da vítima? A solução seria procurá-lo na adega, onde estaria enterrado.

As escavações, porém, não levaram a resultados definitivos, pois deram n'água, sem que se tivessem encontrado quaisquer indício. Por essa razão foram suspensas.

No verão de 1848, o próprio Sr. David Fox auxiliado por alguns interessados retomou o empreendimento. A uma profundidade de um metro e meio, encontraram uma tábua. Aprofundada a cova, encontraram o carvão, cal, cabelos e alguns fragmentos de ossos que foram reconhecidos por um médico como pertencentes a esqueleto humano; mais nada.

As provas do crime eram precárias e insuficientes, razão talvez pela qual o Sr. Bell não foi denunciado.

A DESCOBERTA DO ESQUELETO

Em o número de 23 de novembro de 1904, do Boston Journal, foi notificada a descoberta do esqueleto de um homem cujo Espírito se supunha ter ocasionado os fenômenos na casa da família Fox em 1848. Meninos de uma escola achavam-se brincado na adega da casa onde moravam os Fox. A casa tinha fama de ser malassombrada. Em meio aos escombros de uma parede - talvez falsa - que existira na adega, os garotos encontraram as peças de um esqueleto humano.

Junto ao esqueleto foi achada uma lata de uma espécie costumeira usada por mascates. Esta lata encontra-se agora em Lilydale, a sede central regional dos Espiritualistas Americanos, para onde foi transportada a velha casa de Hydesville.

Como pode ver-se, cinquenta e seis anos depois, em 22 de novembro de 1904 (data do encontro do esqueleto do mascate), parece não haver dúvida de que foram confirmadas as informações obtidas em 1848 a respeito do crime ocorrido naquela casa. Este
episódio constitui-se em um notável caso de TCD(transcomunicação direta). As evidências são muito fortes.

O MOVIMENTO ESPALHA-SE

As duas garotas, Margareth e Kate, foram afastadas de sua casa, pois suspeitava-se que os fenômenos eram ligados sobretudo à sua presença. Margareth passou a morar com seu irmão David Fox. A Kate mudou-se para Rochester, onde ficou em casa de sua irmã Leah, então casada e agora Sra. Fish. Entretanto, os ruídos insistiam em acompanhar as irmãs Fox; onde elas se achavam, ocorriam os fenômenos. Parece que agora se observava uma espécie de contágio, pois, Leah Fish, a irmã mais velha, passou a apresentar também os mesmos fenômenos. Logo mais, começaram a surgir em outras famílias:

"Era como uma nuvém psíquica, descendo do alto e se mostrando nas pessoas suscetíveis. Sons idênticos foram ouvidos em casa do Rev. A.H.Jervis, ministro metodista residente em Rochester. Poderosos fenômenos físicos irromperam na família do Diacono Hale, de Greece, cidade vizinha de Rochester. Pouco depois Mrs. Sarah A. Tamlin e Mrs. Benedict de Auburn, desenvolveram notável mediunidade (...)".

O movimento espalhar-se-ia, mais tarde, pelo mundo, conforme fora afirmado em uma das primeiras comunicações através das irmãs Fox. As próprias forças invisíveis insistiram para que se fizessem reuniões públicas onde elas pudessem manifestar-se
ostensivamente. Era uma nova mensagem que vinha do mundo dos Espíritos, conclamando os homens para uma outra posição filosófico-religiosa.

"SPIRITUALISMO" E ESPIRITISMO

A "Onda Espiritualista" passou da América para a Europa, cujo terreno já se encontrava preparado pelo desenvolvimento científico, e onde os fenômenos de TC (transcomunicação) iriam ser estudados mais tarde, com rigor e profundidade pelos fundadores da "Psychical Reserch" e da Metapsiquica.

A forma bastante comum sob a qual a manifestações de TC (transcomunicação) se apresentaram na Europa, foi a das "mesas girantes". Vamos focalizar mais adiante e resumidamente esse período, do qual tambem se originou o Espiritismo na França,
gracas às investigações científicas e ao método didático do ilustre intelectual lionês, Denizard Hypplite Leon Rivail (Allan Kardec).

Nunca é supérfluo enfatizar que não se deve confundir o "Spiritualism" com o espiritismo. O primeiro nasceu como um movimento popular, provocado por evidências a favor da crença na existência, sobrevivência e comunicabilidade do Espírito. Posteriormente o "Spiritualism"adquiriu a forma de um religiao organizada que aspira, também, ser uma Ciência e uma Filosofia.

Agora, um ponto importante: o "Spiritualism" não incorporou a idéia da reencarnação. Ele admite apenas a continuidade da vida após a morte, sem inferno ou céu, porém em contínuo aprendizado e evolução no "Mundo Espiritual".

Há algumas diferenças entre os princípios básicos do "Spiritualismo" e do Espiritismo. A mais profunda é a questão da "reencarnação". O Espiritismo não só aceita o renascimento, como admite a Lei do Carma, considerando serem estes os fatores naturais da evolução do Espírito. Embora Allan Kardec, o codificador da Doutrina Espírita, considere Sócrates e Platão como os precursores da idéia cristã e do Espiritismo, a sua atenção para a realidade da comunicação dos Espíritos foi despertada pelo fenômeno das "mesas girantes".

REPERCUSSÃO ENTRE INTELECTUAIS

A partir do episódio das irmãs Fox, a transcomunicação, aqui no ocidente, passou atrair a atencao de um pequeno grupo de cientistas. Inicialmente, tais investigadores achavamse, em sua maioria, imbuidos de forte cepticismo acerca do fenômenos paranormais que passaram a ganhar popularidade inusitada na Europa. Somente a curiosidade diante da estranheza de tais ocorrências conseguiu levar esses poucos cientistas a observá-las.
Logo no começo da fase, as pesquisas conduziram à formação de três categorias de pessoas, conforme suas opiniões acerca da natureza dos referidos fenômenos.

O primeiro grupo consistiu nos que viram nesses fatos uma confirmação de suas crencas na sobrevivência, na comunicabilidade e progresso dos Espíritos. A natureza do homem, para eles, era dual, e continha um componente espiritual além do material. Desta interpretação, surgiu um aspecto religioso como decorrência imediata do reconhecimento da natureza espiritual da criatura humana. O "Spiritualism", na Inglaterra, e o Espiritismo, na França, são exemplos dessa interpretação, embora ambos reivindiquem, também, para suas doutrinas, os aspectos filosóficos e científicos.

Um segundo grupo constituiu-se, em sua maioria, por cidadãos de acentuado interesse científico. Alguns já eram cientistas profissionais, professores e investigadores em diversas áreas de conhecimento teórico e prático. Outros, com títulos e formação
superior, embora nao especialistas em disciplinas científicas, sentiram-se também interessados em investigar de maneira racional os referidos fatos, denominados, na época, "fenômenos psiquicos". Daí a designação usual desta atividade: "Psychical Research" (Pesquisa Psiquica). Na França, Charles Richet deu-lhe outro nome: "Metapsiquica".

No segundo grupo, figuravam, indistintamente, os espiritualistas, os indiferentes e os materialistas. Apenas os seguintes objetivos pareciam movê-los: confirmar ou negar os propalados fenômenos e, no caso afirmativo, descibrir a sua real causa eficiente.

Finalmente, um terceiro grupo, compreendendo a maioria dos interessados, colocou-se em franco antagonismo relativamente aos dois primeiros. Compunha-se de cientistas, intelectuais em geral, jornalistas e pessoas comuns. Alguns eram fieis ou chefes de
religiões instituídas. Grande número desses cidadãos, especialmente os intelectuais, achava-se impregnado de filosofias materialistas e havia absorvido as ideias positivistas. Revelaram-se profundamente céticos e procuraram liquidar com a crença nos aludidos fenômenos. Para eles, os fenômenos paranormais eram manifestações de superstição, ilusões e fraudes, ou alienação mental. Para alguns religiosos, poderiam ser armadilhas do "demônio", ou tentativas de indivíduos mal intencionados que visavam abalar as bases das religiões tradicionais. Outros chegavam a acreditar que se tratava da revivescencia da Magia e do Ocultismo, numa tentativa de dominio de opinião pública.

CONCLUSÃO

Foi neste clima que se desenrolaram as dramáticas transcomunicações, cuja iniciativa, ao que parece, partiu do Plano Espiritual. As manifestações mais em evidência foram as chamadas "Mesas Girantes". Este episódio inaugurou o Período Espíritico, conforme a classificação de Charles Richet. Segundo este sábio, tal período vai das irmãs Fox ate as pesquisas de Sir Willian Crookes, em 1872.


Dolores Bacelar - Sua Biografia


Dolores Bacelar, médium que permaneceu sob o anonimato por muitos anos e sua história,

por Izabel Vitusso

Dolores Bacelar dedicou grande parte da vida em prol da doutrina espírita. Psicografou diversos títulos, auxiliou instituições de caridade e, por opção, permaneceu praticamente no anonimato

Pelo menos dentre os espíritas mais antigos, vai ser difícil encontrar alguém que não tenha lido ou ouvido falar em A mansão Renoir. Um romance espírita psicografado que se tornou um clássico, pelo enredo, qualidade literária e enquadramento doutrinário.
Porém, sobre a médium psicógrafa, Dolores Bacelar, é difícil dizer a mesma coisa. Por um simples motivo. Ela seguiu à risca a orientação que recebera de Alfredo, um dos espíritos responsáveis pela orientação da médium: que ela se mantivesse na discrição. Dolores fez mais do que isso; manteve-se quase no anonimato.
Nascida em 10 de novembro de 1914, era sobrinha de tio com fortes vínculos com a Igreja – o monsenhor Francisco Apolônio Jorge Sales. Estudou por seis anos em colégio de irmandades. Assim que se casou, mudou-se de Pernambuco para o Rio de Janeiro. E foi lá, alguns anos depois, já com três de seus quatro filhos, que a mediunidade de Maria Dolores de Araújo Bacelar começou a dar seus primeiros sinais, poucos anos antes de a cidade maravilhosa se despedir da década de 40.

Dolores e seu marido

Potencial mediúnico
Assustar-se e gritar com pedestres nas vias públicas, por achar que estavam prestes a ser atropelados, era fato corriqueiro para a médium. Na verdade, o que Dolores via eram os espíritos transitando – essa foi a causa de ter sido aconselhada pelo espírito Alfredo para que não se aventurasse no volante.
Levada a uma casa espírita, no Rio de Janeiro, conheceu Ismael Gomes Braga, que imediatamente percebeu o potencial mediúnico a ser colocado em ação. Tendo ao lado o esposo, Luiz Gonzaga da Silveira Bacelar, Dolores não apenas abriu a vertente das diversas sensibilidades mediúnicas, como também trabalhou extenuadamente pela divulgação do epiritismo. Primeiro foi na Casa Espírita do Coração, em Ipanema, RJ. Mais tarde, fundou com o esposo mais duas instituições de assistência: a Sociedade Espírita Seara dos Filhos de Deus, em Copacabana, transferida depois para Botafogo, ainda em atividade; e a Casa Assistencial Lar Amigo, destinada ao amparo de meninas órfãs. Mesmo com a grande importância dada ao trabalho assistencial, Dolores dedicou-se atenção especial à família. “Mamãe sempre foi muito dedicada ao lar. Colocava a família como prioridade. Ela dizia que Deus havia lhe dado primeiro os filhos e a mediunidade veio depois”, revelou Rômulo Bacelar, o segundo filho do casal, além de Fernando Antonio, Ana Cristina e Primavera.

Apoio aos órfãos
Devolver a dignidade ao ser humano era o que a médium discreta perseguia em suas frentes de trabalho. Tanto que não faltou o seu apoio ao coronel Jaime Rolemberg de Lima, quando pensou em implantar a unidade para atendimento às famílias carentes, no Lar Fabiano de Cristo, em Copacabana, que recebeu o nome de Casa de Alfredo.

Quando ficou viúva, em 1988, Dolores estava com 74 anos; era já avó de oito netos, mas se sentia em forma para assumir mais trabalho. Há anos realizando atividades com crianças órfãs no Lar Amigo, ela ainda aceitou a presidência da Sociedade Espírita Seara dos Servos de Deus.

Trabalhar junto a crianças órfãs era algo que lhe atraía. Talvez tenha sido esse o motivo que a levou, em 1980, a visitar o Lar da Criança Emmanuel – primeira instituição de assistência fundada em São Bernardo do Campo, SP – pelos espíritas Ismael Sgrignolli, Raymundo Espelho, Manoel Romero, José Corrêa e outros.

Ao conhecer o trabalho da entidade, onde fora levada pelo escritor Jorge Rizzini, a médium manifestou interesse imediato em ceder àquelas crianças os direitos autorais de todas as obras por ela psicografadas. Entre as razões que levaram Dolores a tal gesto, permanecia a idéia de sempre vincular seu trabalho, principalmente a psicografia, à assistência da criança carente.

Foi então que o romance A mansão Renoir – que narra a história de transformação ocorrida em uma importante família de descendência francesa –, ganhou, em 1980, forma e público, por meio da própria editora vinculada ao Lar Emmanuel, a Correio Fraterno, fundada em 1967.

Dolores ao centro abraçada com Jorge Rizzini

Instrumento do bem
Além de A mansão Renoir, Dolores Bacelar recebeu pela psicografia inconsciente mais nove livros: A Canção do destino, Novos cânticos, A rosa imortal e À sombra do olmeiro, e a série Às Margens do Eufrates da qual fazem parte as obras: O alvorecer da espiritualidade, Guardiães da verdade, Veladores da luz, O Vôo do pássaro azul e o último, Jonathan, o pastor. Todos assinados por Espíritos com perfil semelhante ao da médium, que preferem se revelar pelas obras, e não pelo nome. Assinam simplesmente como: Um Jardineiro, Josepho ou Alfredo.
“Apesar de ter a mediunidade totalmente inconsciente, mamãe sabia o teor do trabalho que psicografaria. Os Espíritos apresentavam o livro antes a ela”, contou Rômulo – com quem Dolores viveu nos últimos tempos. “De todos os livros que recebera, À sombra do olmeiro, de autoria do Espírito Um Jardineiro, era a obra de que ela mais gostava. Adorava também a série Às margens do Eufrates”, finalizou.
Afetiva, Dolores transmitia seu carinho aos amigos que fizera ao longo dos anos, trocando cartas com os mais distantes – como os amigos do Correio Fraterno e também com o médium Chico Xavier –, e mostrando a suavidade de sua presença aos mais próximos. Dolores veio a desencarnar, no dia 6 de outubro de 2006, por causas naturais, poucos dias antes de completar 92 anos, no Rio de Janeiro. Dois meses depois, sua presença em Espírito, já foi sentida entre os familiares, no Rio de Janeiro e São Paulo, onde ela deixou uma mensagem, que lembram as expressões de sua preferência:
“A mão que antes fere, hoje ilumina. A arma que desfere para o mal, hoje se transforma em instrumento do bem. Cada sonho despetalado transforma-se em sementes que irão germinar. E só o amor é capaz de encubar toda semente lançada à terra. Assim são as palavras que consolam, regadas pelo sentimento”, pelo espírito de Dolores Bacelar.

Fonte: http://correiofraterno.com.br/nossas-secoes/15-baudememorias/725-ilustre-desconhecida
 

Ermance Dufaux - Biografia


Ermance De La Jonchére Dufaux nasceu em 1841, na cidade de Fontainebleau, França. Próxima a Paris, abrigava a residência oficial de Napoleão III e de outros nobres. O pai de Ermance, rico produtor de vinho e trigo, era um deles. Tradicional, a família Dufaux residia num castelo medieval, herança de seus antepassados.
Em 1853, a filha dos Dufaux começou a apresentar inquietante desequilíbrio nervoso e a fazer premonições. Por causa desse problema, seu pai procurou o célebre médico Cléver De Maldigny.
Pelo relato do Sr. Dufaux, o médico disse que Ermance parecia estar sofrendo de um novo distúrbio nervoso, que havia feito diversas vítimas na América e que, agora, estava chegando à Europa. As vítimas da doença entravam numa espécie de transe histérico e começavam a receber hipotéticas mensagens do Além.
O médico aconselhou o Sr. Dufaux a trazer Ermance a seu consultório, o mais rápido possível. Assim foi feito. Alguns dias depois, a mocinha comparecia à consulta.
Maldigny colocou um lápis na mão da menina e pediu que ela escrevesse o que lhe fosse impulsionado. Ermance começou a rir, gracejando, mas, de súbito, seu braço tomou vida própria e começou a escrever sozinho. Ao ver-se dominada por uma força estranha, Ermance assustou-se, largou o lápis e não quis continuar a experiência.
Maldigny examinou o papel e confirmou seu diagnóstico. Os pais de Ermance ficaram extremamente preocupados. Como a família era famosa na corte, a notícia logo se espalhou em Paris e Fontainebleau, chegando aos ouvidos do Marquês de Mirvile, famoso estudioso doMagnetismo.
O Marquês visitou o castelo dos Dufaux e pediu para examinar Ermance. Os pais aquiesceram, mas a mocinha teve que ser convencida. Por fim, Ermance colocou-se em posição de escrever e Mirvile perguntou ao invisível:
- Está presente o Espírito em que penso? Em caso positivo, queira escrever seu nome por intermédio da garota.
A mão de Ermance começou a se mover e escreveu:
- Não, mas um de seus parentes remotos.
- Pode escrever seu nome?
- Prefiro que meu nome venha diretamente à sua cabeça. Pense um instante.
- São Luís, rei de França (1), primo do primeiro nobre de minha família?
- Sim, eu mesmo.
- Vossa Majestade pode dar-me um prova de que é realmente o nosso grande rei?
- Ninguém nesta casa sabe que você e seus parentes me consideram o Anjo da Guarda da família.
Se Maligny via o caso de Ermance como doença, o Marquês também tinha suas explicações preconcebidas. Na sua opinião, ela apenas captava as idéias e pensamentos presentes no ambiente. Isso na melhor das hipóteses. Na pior, a jovem estava sendo intérprete do Diabo, pois, como católico, ele não acreditava que os mortos pudessem se comunicar. Uma análise conclusiva deveria ser feita pela Academia de Ciências de Paris.
O Sr. Dufaux, no entanto, não levou o caso adiante. Embora também fosse católico, ele preferiu acreditar que sua filha não era doente ou possessa, mas apenas uma intermediária entre os vivos e os mortos. A família foi se acostumando com o fato e a faculdade de Ermance passou a ser vista como uma coisa natural e positiva.
Os contatos com São Luís passaram a ser frequentes. Sob seu influxo, ela escreveu a autobiografia póstuma do rei canonizado, intitulada "A história de Luís IX, ditada por ele mesmo". Em 1854, esse texto foi publicado em livro, mas a Censura do Governo de Napoleão III proibiu a sua distribuição. Os censores acharam que algumas passagens podiam ser entendidas como críticas ao Imperador e à Igreja.
O posicionamento favorável dos Dufaux ao neo-espiritualismo (spiritualisme) gerou retaliações. Numa confissão, Ermance recusou-se a negar sua crença nos Espíritos, atribuindo suas mensagens a Satanás, e foi proibida de comungar. A Imperatriz também esfriou seu relacionamento com a família. No entanto, o Imperador Napoleão III ficou curioso e pediu para conhecer a Srta. Dufaux.
Ela foi recepcionada no Palácio de Fontainebleau e recebeu uma mensagem de Napoleão Bonaparte para o sobrinho. A mensagem respondia a uma pergunta mental de Luís Napoleão e seu estilo correspondia exatamente ao de Bonaparte.
Com o tempo, os Espíritos também começaram a falar por Ermance. Em 1855, com 14 anos, Ermance publica seu segundo livro "spiritualiste" (na época, não existiam os termos espírita, mediunidade, etc). O primeiro a ser distribuído e vendido: "A história de Joana D'Arc, ditada por ela mesma" (Editora Meluu, Paris).
Segundo Canuto Abreu, a família Dufaux conheceu Allan Kardec na noite do dia 18 de abril de 1857. O Codificador teria dado uma pequena recepção em seu apartamento e os Dufaux foram levados por Madame Planemaison, grande amiga do professor lionês.
No final da reunião, Ermance recebeu uma belíssima mensagem de São Luís, que, a partir dali, tornaria-se uma espécie de supervisor espiritual dos trabalhos do Mestre. Segundo o ex-rei, Ermance, assim como Kardec, era uma druidesa reencarnada. Os laços entre os dois se estreitaram e ela se tornou a principal médium das reuniões domésticas do Prof. Rivail.
No final de 1857, Kardec teve a idéia de publicar um periódico espírita e quis ouvir a opinião dos guias espirituais. Ermance foi a médium escolhida e, através dela, um Espírito deu várias e ótimas orientações ao Mestre de Lion. O órgão ganhou o nome de "Revista Espírita" e foi lançado em Janeiro do ano seguinte.
Como o apartamento de Allan Kardec ficou pequeno para o grande número de frequentadores da sua reunião, alguns dos participantes decidiram alugar um local maior.
Para isso, porém, precisavam de uma autorização legal. O Sr. Dufaux encarregou-se de obter o aval das autoridades, conseguindo em quinze dias o que, normalmente, levaria três meses. Conquistada a liberação, o Codificador e seus discípulos fundaram a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em Abril de 1858. Ermance foi uma das sócias fundadoras.
Durante o ano de 1858, Ermance recebeu mais duas autobiografias mediúnicas. Desta vez, os autores foram os reis franceses Luís XI e Carlos VIII. O Codificador elogiou o trabalho da Srta. Dufaux (2) e transcreveu trechos das "Confissões de Luís XI" na Revista Espírita(3). Nesse mesmo ano, Kardec divulgou três mensagens psicografadas pela jovem sensitiva (4). Não temos notícia sobre a possível publicação das memórias de Carlos VIII.

Canuto Abreu revelou que Rivail a utilizou como médium na revisão da 2ª edição de O Livro dos Espíritos.
Em 1859, Ermance não é mais citada como membro da SPEE nas páginas do mensário kardeciano. Isso leva-nos a crer que ela teria saído da Sociedade. Outro indício dessa suposição é que São Luís passou a se comunicar através de outros sensitivos (Sr. Rose, Sr. Collin, Sra. Costel e Srta. Huet). Não há, igualmente, registros da continuidade do seu trabalho em outros grupos.
O que teria acontecido com Ermance? Teria casado e deixado a militância, como Ruth Japhet e as meninas Baudin? Teria se desentendido com Kardec? Teria mudado da França? Teria desanimado com o Espiritismo? São perguntas que só ela poderia responder. Seja como for, o Codificador continuou a divulgar seu trabalho. Em 1860, ele noticiou a reedição de "A história de Joana D'Arc ditada por ela mesma", pela Livraria Lendoyen de Paris.
Em 1861, enviou vários exemplares desse livro, junto com suas obras, para o editor francês Maurice Lachâtre, que se encontrava exilado em Barcelona, Espanha. O objetivo era a divulgação do Espiritismo em solo espanhol. Esses volumes acabaram confiscados e queimados em praça pública pela Igreja Católica no famoso Auto-de-fé de Barcelona.
"A história de Luís IX ditada por ele mesmo", foi liberada pela Censura e finalmente publicada pela revista La Verité de Paris em 1864. No início de 1997, a editora brasileira Edições LFU traduziu "A história de Joana D'Arc" para o português.
NOTAS:
(1) Rei francês, filho de Luís VIII e Branca de Castela, nascido em 1215, coroado em 1226 e morto em 1270. Luís IX teve um reinado bastante conturbado. Até 1236 enfrentou a Revolta dos Vassalos e a Guerra dos Albigenses. Venceu duas batalhas contra os ingleses em 1242. Em 1249, organizou uma Cruzada, foi vencido e aprisionado. Resgatado, ficou na Palestina até 1252, quando voltou à França. Empreendeu mais uma Cruzada e morreu de peste ao desembarcar em Tunis. Foi canonizado pela Igreja em 1297.
(2) Página 30 do Volume 1858, EDICEL.
(3) Páginas 73, 148 e 175, ibidem.
(4) Páginas 137, 167 e 317, ibidem.

BIBLIOGRAFIA:

ABREU, 1992.
KARDEC, 1993.
KARDEC, ?
_____________
Algumas Informações Adicionais sobre Ermance Dufaux (GEAE)
Pesquisando na Internet verificamos que Ermance Dufaux publicou livros na década de 1880 que foram citados em obras de outros autores e traduzidos para outras linguas. Edições impressas ainda existem a venda em sites de livros raros e versões digitalizadas podem ser encontradas no site da Biblioteca Nacional da França.
Algumas das referências que encontramos:
1) No site da Biblioteca do Congresso Americano há uma página dedicada a preservação da memória americana com a digitalização de obras raras (http://memory.loc.gov/ammem/index.html). Encontramos nesse site um livro de 1909 - Traité Pratique et Thèorique de La Danse (Tratado Teórico e Prático da Dança, BOURGEOIS, 1909) - que traz na sua bibliografia a indicação de duas obras em nome de Ermance Dufaux. Não há dadas de publicação indicadas:
Le savoir-vivre dans la vie ordinaire et les cérémonies civiles et religieuses, par Ermance Dufaux. 1 vol. in-18 (O saber viver na vida cotidiana e nas cerimônias civis e religiosas).
L'enfant, hygiène et soins médicaux pour le premier âge; par Ermance Dufaux de la Jonchère. Nombreuses gravures. 1 vol. in-18 (A criança, higiene e cuidados médicos na primeira idade).

2) No site da Amazon Books em francês há a indicação de uma obra histórica de Ermance Dufaux de 1885:
La vie du vaillant bertrand du guesclin, de d'Aprés les Chanson de Geste du Trouvère, Tx Rajeuni par E. Dufaux de la Jonchere. Description: dos léger , cartonnage perca. décoré édition tranche dorées, illustration de Tofani in et hors texte Garnier , 1885. (A vida do Valoroso Bertrand du Guesclin, conforme as canções de gesta dos trovadores, em prosa contemporânea por E. Dufaux de la Jonchere).

3) A página do DICTIONNAIRE DES AUTEURS / ECRIVAINS traz a seguinte relação de obras de Ermance Dufaux:
Auteur : DUFAUX DE LA JONCHERE ERMANCE
Livre : LE SAVOIR-VIVRE DANS LA VIE ORDINAIRE ET DANS LES CEREMONIES CIVILES ET RELIGIEUSES
Edité par Garnier freres - Paris en s.d.(ca 1883)
Auteur : DUFAUX DE LA JONCHERE (MLLE E.)
Livre : LA VIE DU VAILLANT BERTRAND DU GUESCLIN, D'APRES LA CHANSON DE GESTE DU TROUVERE CUVELIER ET LA CHRONIQUE EN PROSE CONTEMPORAINE. Edité par Garnier - Paris en 1885
Auteur : DUFAUX ERMANCE
Livre : HISTOIRE DE JEANNE D'ARC PAR ELLE MEME
Edité par Philman - Paris le 25/09/2000
Auteur : DUFAUX ERMANCE
Livre : LE SAVOIR-FAIRE DANS LA VIE ORDINAIRE ET DANS LES CEREMONIES CIVILES ET RELIGIEUSES
Paris en 1883

4) O livro de Ermance Dufaux sobre higiene e cuidados na infância teve uma tradução para o espanhol em 1888. Esta informação foi encontrada em um site de leilões: Durán Sebastas de Artes (acesso 25/09/2006):
DUFAUX DE LA JONCHERE, Erm.- "EL NIÑO Higiene y cuidados maternales dela infancia PARA USO DE LAS MADRES JOVENES Y DE LAS NODRIZAS... Versión castellana anotada y arreglada por D. Gonzalo de Lorenzo". París, Garnier Hermanos. 1888. 8º, tela edit., estamp. 475 pgs. Figuras en texto.
5) No site Gallica da Biblioteca Nacional da França está disponível para consulta e download o livro Le Saivoir-Vivre e no seu início há uma carta datada de 1883.
6) No mesmo site há outro livro dela de 1884:
Ce que les maîtres et les domestiques doivent savoir [Texte imprimé] / par Mlle E. Dufaux de la Jonchère (O que os patrões e os criados domésticos devem saber). Paris : Garnier frères, 1884. 461-36 p. Sujet: Employeur et employé (droit) -- 19e siècle.

Vários livros de autoria espiritual de Ermance Dufaux foram psicografados através do médium Wanderley Soares de Oliveira a partir de 2000. Segundo o site da Livraria Espírita Candeia, Wanderley atua em Belo Horizonte (MG) como expositor e médium. Os livros são publicados pela editora Dufaux:
Seara Bendita (2000 - em parceria com outros espíritos)
Laços de Afeto (2002)
Mereça ser Feliz (2002)
Reforma Íntima sem Martírio (2003)
Unidos Pelo Amor (2004 - em parceria com outros espíritos)
Atitude de Amor (opúsculo - em parceria com outros espíritos)
Lírios de Esperança (2005)
Escutando Sentimentos (2006)

Referências Bibliográficas
ABREU, S. C. O Livro dos Espíritos e sua Tradição Histórica e Lendária. São Paulo: Edições LFU, 1992.
BOURGEOIS, E. Traité pratique et théorique de la danse. Paris: Garnier frères, 1909. Disponível em: http://memory.loc.gov/cgi-bin/query/r?ammem/musdi:@field(DOCID+@lit(musdi235)). Acesso em 25 de setembro de 2006.
DOYLE, A. C. The History of Spiritualism - Vol I. Australia: Projeto Guttemberg, 2003. Disponível em: http://gutenberg.net.au/ebooks03/0301051.txt

DUBY. G. Histoire de La France. 3. ed. Paris: Larousse, 2003
KARDEC, A. Coleção da Revista Espírita. São Paulo: EDICEL, ?
______. Obras Póstumas (Coleção das Obras Completas de Allan Kardec - Volume XIX). São Paulo: EDICEL, 1976.
______. Obras Póstumas. Rio de Janeiro: FEB, 1993
______. Revista Espírita - 1858. Tradução Salvador Gentile. 1.a ed. São Paulo: Mundo Maior Editoria, 2003.
MORAL, A. M. El Segundo Imperio. Historia y Vida - n° 413. Barcelona (Espanha): Editora Mundo Revistas, agosto de 2002.

WANTUIL, Z.; THIESEN, F. Allan Kardec. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1979

WIKIPEDIA. Bernadette Soubirous. In: WIKIPEDIA, The Free Encyclopedia. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/St_Bernadette. Acesso em 19 de setembro de 2006.
Boletim GEAE 519

Parábola contada pelo espírito Joanna de Ângelis a Divaldo Franco.


Em 1962, Divaldo passou por uma grande provação, ficando vários dias sem condições de conciliar o sono, hora nenhuma, o que lhe trouxera constante dor de cabeça.
Numa ocasião, não suportando mais, quando Joanna lhe apareceu, ele lhe falou:
- Minha irmã, a senhora sabe que eu estou passando por um grande problema, uma grande injustiça, e não me diz nada?
- Por isso mesmo eu não te digo nada, porque é uma injustiça. E como é uma injustiça, não tem valor, Divaldo.
- Tu és quem está dando valor e quem dá valor à mentira, deve sofrer o efeito da mentira.
Porque, se tu sabes que não é verdade, por que estás sofrendo? Eu não já escrevi por tuas mãos:
“Não valorizes o mal”?
- Não tenho outro conselho a dar-te.
- Mas, minha irmã, pelo menos me diga umas palavras de conforto moral, porque eu não tenho a quem pedir.
- Então, ela falou:
- Vou dar-te palavras de conforto. Não esperes muito.
- E contou-lhe a seguinte parábola:
Havia uma fonte pequena e insignificante, que estava perdida num bosque. Um dia, alguém por ali passando, com sede, atirou um balde e retirou água, sorvendo-a em seguida e se foi.
A fonte ficou tão feliz que disse de si para consigo:
Como eu gostaria de poder dessedentar os viandantes, já que sou uma água preciosa!
E orou a Deus:
- Ajuda-me a dessedentar!
Deus deu-lhe o poder. A fonte cresceu e veio à borda. As aves e os animais começaram a sorvê-la e ela ficou feliz.
A fonte propôs:
- Que bom é ser útil, matar a sede. Eu gostaria de pedir a Deus que me levasse além dos meus limites, para umedecer as raízes das árvores e correr a céu aberto.
Veio então a chuva, ela transbordou e tomou-se um córrego.
Animais, aves, homens, crianças e plantas beneficiaram-se dela.
A fonte falou:
- Meu Deus, que bom é ser um córrego! Como eu gostaria de chegar ao mar!
E Deus fez chover abundantemente, informando:
Segue, porque a fatalidade dos córregos e dos rios é alcançar o delta e atingir o mar. Vai!
E o riacho tomou-se um rio, o rio avolumou as águas. Mas, numa curva do caminho, havia um toro de madeira.
O rio encontrou o seu primeiro impedimento.
Em vez de se queixar, tentou passar por baixo, contornar, mas o tronco de madeira cerceava-lhe os passos. Ele parou, cresceu e o transpôs tranquilamente.
Adiante, havia seixos, pequeninas pedras que ele carregou e outras inamovíveis, cujo volume ele não poderia remover. Ele parou, cresceu e as transpôs, até que chegou ao mar. Compreendeste?
Mais ou menos.
- Todos nós somos fontes de Deus – disse ela.
- E como alguém um dia bebeu da linfa que tu carregavas, pediste para chegar à borda, e Deus, que é amor, atendeu-te.
- Quiseste atender aos sedentos, e Deus te mandou os Amigos Espirituais para tanto. Desejaste crescer, para alcançar o mar e Deus fez que a Sua misericórdia te impelisse na direção do oceano. Estavas feliz.
- Agora, que surgem empecilhos, por que reclamas?
- Não te permitas queixas.
- Se surge um impedimento em teu caminho, cala, cresce, transpõe-no, porque a tua fatalidade é o mar, se é que queres alcançar o oceano da Misericórdia Divina.
- Nunca mais lamentes a respeito de nada.


sábado, 26 de maio de 2012

Prisca e Áquila (Os amigos do jovem de Tarso)


Matéria publicada no Jornal Mundo Espírita - novembro/2005

Foi no oásis de Dan, distante mais de 50 milhas de Palmira, cidade no deserto siro-arábico, fortificada pelo rei judeu Salomão, que Saulo, que viria se tornar o Apóstolo dos gentios, os viu pela primeira vez.

Era um casal harmonioso, onde "o respeito mútuo, a perfeita conformidade de idéias, a elevada noção de deveres...e sobretudo, a alegria sã..." (5) irradiavam de seus menores gestos.

Prisca, também chamada Priscila, tinha servido, quando menina e órfã desamparada, como serva da esposa do irmão de Gamaliel, mestre de Saulo.

Bons operários, segundo o comerciante Ezequias, que os empregava, eram, quando ali chegou Saulo, para o seu exílio espontâneo de 3 anos, os únicos habitantes.

Dedicavam-se à preparação de tapetes de lã e de tecidos resistentes de pelo caprino, para barracas de viagem. Viviam ambos a mocidade e, dotados de bom ânimo, trabalhavam com expressões de alegria.

Prisca era a expressão do carinho. Apreciava entoar velhas canções hebraicas, que ressoavam no grande silêncio do deserto. Concluía as tarefas domésticas e se postava junto ao marido, nas lides do tear, até às horas avançadas do crepúsculo.

Áquila era extremamente dedicado às responsabilidades que lhe competiam, trabalhando sem descanso, à sombra das árvores acolhedoras.

Quando caía a tarde, o casal, depois acompanhado por Saulo, estudava as anotações do apóstolo Levi.

Ambos tinham vivido em Jerusalém e freqüentado as reuniões na Casa do Caminho. Contudo, quando se desencadearam as perseguições comandadas pelo então orgulhoso rabino de Tarso, eles foram presos.

Áquila tinha uma tenda de tecelão e seu pai, uma padaria, que era motivo da cobiça de um certo Jochaí, que várias vezes a desejara adquirir, sem êxito.

Munido de autoridade, o infeliz personagem mandou prender o casal e o pobre velho. Esse, por sua vez, nem era seguidor de Jesus, embora simpatizasse com as idéias.

Áquila e Prisca foram soltos mas o dono da padaria logo teve todos seus bens confiscados e sofreu nas mãos dos algozes as piores torturas. Quando foi devolvido à casa do filho, morreu no dia seguinte. Parecia um fantasma ao ser trazido pelos guardas: ossos quebrados, feridas abertas, o corpo lanhado pelos açoites. Apesar de tudo, o casal não odiava Saulo, pois haviam aprendido com Pedro a perdoar e abençoar o perseguidor.

Quando, passados meses, Saulo se identifica como o perseguidor Saulo de Tarso, recebe o abraço fraterno de Áquila e as melhores considerações de Prisca. Ele já lhes havia conquistado os corações, pela humildade e longos diálogos em torno da Boa Nova.

Ante as revelações do extraordinário encontro de Saulo com Jesus, às portas de Damasco, decidiram que deveriam sair do deserto para proclamar os favores de Jesus pelo mundo inteiro.

Além do Evangelho, tinham agora também as notas da visão de Jesus ressuscitado para ilustrar a sua palavra. Seu sonho maior era ir a Roma e anunciar o Cristo aos irmãos da antiga Lei.

Foi assim que deixaram o oásis, ao ensejo da passagem de uma grande caravana que os conduziu a Palmira, onde foram inicialmente acolhidos com desvelado carinho, pela família de Gamaliel.

Pelo ano 50, Áquila e Prisca tornariam a se reencontrar com Paulo, em Corinto. "Áquila e a companheira falaram longamente dos serviços evangélicos, aos quais haviam sido chamados pela misericórdia de Jesus".(4)

Conforme seu plano, haviam estado em Roma, por algum tempo, fazendo as primeiras pregações do Evangelho. Os judeus lhes haviam declarado guerra e, certa noite, contou Prisca que, estando sozinha, umgrupo de israelitas lhe invadiu a casa e a açoitaram, duramente.

Quando Áquila chegou, a encontrou banhada em sangue. Tudo narram, entre exclamações de regozijo pela honra de servir ao Cristo.

A instâncias de Paulo, empreendem esforços para a fundação de uma Igreja em Corinto.

Em 52, acompanharam Paulo a Éfeso, ali se instalando. Quando um certo Apolo, judeu eloqüente, natural de Alexandria, veio a Éfeso, foram Áquila e Prisca que lhe expuseram minuciosamente a Boa Nova, tendo ele se tornado um pregador.

Com ele, foram a Corinto e pela veemência de sua pregação, convencia publicamente os judeus, mostrando pelas Escrituras que Jesus era o Cristo.

De retorno a Éfeso, Áquila e Prisca sofreram novas perseguições. Sua oficina singela foi totalmente destruída, quebrados os teares, atiradas à rua as peças de couro. O casal foi preso e somente libertado, após a movimentação dos melhores empenhos de Paulo.
Renan, o autor francês, ao se referir à fundação da Igreja de Roma afirma que não se sabe, com exatidão, quem a teria fundado. Afirma, contudo, que com certeza, os membros mais antigos dessa Igreja seriam Áquila e Prisca.

Para Paulo, desde o oásis de Dan foram queridos amigos, que ele tornaria a encontrar em Roma. Chamou-os seus cooperadores em Jesus Cristo, afirmando que expuseram as suas cabeças pela vida dele.

A eles dirigiu, em suas Epístolas, inúmeras saudações, como podem ser encontradas na Primeira Epístola aos Coríntios, 16:19, na Epístola aos Romanos, 16:3-5 e na Segunda Epístola a Timóteo, 4:19.

Bibliografia:

1. MIRANDA, Hermínio C. Os amigos. In:___. As marcas do Cristo. Rio [de Janeiro]: FEB, 1984. v. 1, cap. 4, item Áquila e Prisca.
2. ROPS, Daniel. Para Roma, pelo sangue. In:___. São Paulo, conquistador de Cristo. 2. ed. Portuguesa. Porto: Tavares Martins, 1960. cap. 5, item O prisioneiro de Cristo.
3. VAN DER OSTEN, A . José. In:___. Dicionário enciclopédico da bíblia. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1985, verbetes Áquila, Palmira e Prisca.
4. XAVIER, Francisco Cândido. As Epístolas. In:___. Paulo e Estêvão. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2002. pt. II, cap. VII.
5. ______. O tecelão. Op. cit. pt. II, cap. II.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Inácio de Antioquia


Inácio de Antioquia

Seu nome deriva do latim: igne - fogo e natus - nascido. Nascido do fogo, o que corresponde muito bem à sua personalidade: ardente, eloqüente, apaixonado por Cristo e pelo forte desejo de imitar seu Mestre.

Também é cognominado Theoforos - carregado por Deus, por ser identificado como a criança que Jesus tomou nos braços, para dar exemplo da verdadeira pureza (Mateus, 18:2-6).

De sua vida se conhecem alguns dados através de Eusébio de Cesaréia, através de sua História Eclesiástica, que o identifica como tendo assumido a chefia da Igreja de Antioquia.

Antioquia foi fundada por volta do ano 300 a.C., por Seleuco Nicátor, com o nome de Antiokheia (cidade de Antíoco). Tornou-se a capital do império selêucida e grande centro do Oriente helenístico.

Conquistada pelos romanos, por volta de 64 a.C. Conservou seu estatuto de cidade livre e foi a terceira cidade do Império depois de Roma e Alexandria, chegando a abrigar até 500 mil habitantes.

Mereceu a evangelização de Pedro, Paulo e Barnabé. Atualmente é a cidade de Antakya, da Turquia.

Inácio foi encontrado por João, mais ou menos quatro anos após o drama da cruz. Tendo se retirado para Éfeso, onde ganhara um pedaço de terra cultivável, o Apóstolo morava com Maria, a mãe de Jesus.

O local era um ponto geográfico privilegiado, aconchegante, de rara beleza. Logo além podia-se ver o mar bordado pelas velas coloridas das embarcações.

Miosótis, flores miúdas e tamareiras completavam a harmonia do local.

O menino tinha então seus 8 anos e vendo-o, João se lembrou do petiz de perninhas magras, pendendo frouxas e confiantes do colo do Divino Amigo. Pareceu rever, na tela da alma, as divinas mãos acariciando os cabelos desgrenhados daquela criança.

Com ternura, resolveu adotá-lo e o levou para sua casa. Ali, o pequeno cresceu sob a ternura e os carinhos de Maria, enquanto João lhe cultivou o caráter nos ensinos cristãos.

Já adulto, propagador entusiasta da Boa Nova, Inácio de Antioquia foi preso. Tornou-se célebre por sua peregrinação forçada, em cadeias, de Antioquia a Roma.

Qual Paulo de Tarso, em seu caminho para Roma, foi recebendo a visita de cristãos de outras Igrejas, em todo o percurso. Nas paradas que fazia para descanso, escrevia às comunidades que o tinham recebido ou que lhe enviavam representantes. São sete as cartas conhecidas, todas de imenso valor para o conhecimento da história dos primeiros cristãos.

Em sua Epístola a Policarpo de Esmirna (cidade marítima da Ásia Menor, a oeste de Éfeso. Pesquisas arqueológicas a identificam com a colina de Hacimutsoste, a oito quilômetros da atual cidade de Izmir, na Turquia) ele recomenda à comunidade, a união e confessa a sua fé em Jesus Cristo.

"O cristão", afirma ele no cap. 7:3, "não tem poder sobre si mesmo, mas está livre para servir a Deus."

Na Epístola aos Romanos,cap. 4:1-3, temeroso de que, amigos que tinham influência na corte imperial o poderiam impedir de alcançar o martírio, ele escreve: "Eu vos suplico, não mostreis comigo uma caridade inoportuna. Permiti-me ser pasto das feras, por meio das quais me é concedido alcançar a Deus. Sou trigo de Deus, e serei moído pelos dentes das feras, para que me apresente como trigo puro de Cristo.

Ao contrário, acariciai as feras, para que se tornem minha sepultura, e não deixem nada do meu corpo, para que, depois de morto, eu não pese a ninguém...Não vos dou ordens como Pedro e Paulo; eles eram apóstolos, eu sou um condenado. Eles eram livres, e eu até agora sou um escravo. Contudo, se eu sofro, serei um liberto de Jesus Cristo, e ressurgirei nele como pessoa livre. Acorrentado, aprendo agora a não desejar nada."

No cap. seguinte refere-se à luta "...contra as feras, por terra e por mar, de noite e de dia, acorrentado a dez leopardos, a um destacamento de soldados; quando se lhes faz bem, tornam-se piores ainda. Todavia, por seus maus tratos, eu me torno discípulo melhor, mas ‘nem por isso justificado'."

Finalmente, num dia ensolarado e quente, desembarcando no Porto de Óstia, cercado por legionários, seguiu pela Via Ápia. Chegando ao cume de uma colina que circundava a cidade, ele começou a sorrir.

Aquele homem alquebrado, sorria a ponto de comover-se até as lágrimas. Um legionário se aproximou dele, bateu-lhe na face e colérico, lhe falou:

"Tu deves estar louco. Por que sorris?"

Inácio, ainda emocionado, respondeu:

"Sorrio diante de tanta beleza que os meus olhos descortinam. Sorrio porque chego a Roma e vejo uma cidade imponente. Sorrio ao olhar o casario de mármore, as estátuas que rutilam ao sol, as águas prateadas do Tibre que circundam as montanhas como um alaúde. Sorrio..."

Antes que Inácio pudesse prosseguir, o soldado lhe gritou:

"Mas tu vais morrer, miserável. Como podes sorrir?"

"Sorrio", continuou o pregador do Evangelho, "sorrio de felicidade porque agora eu posso ter uma dimensão do amor de Deus. Porque, se para vós, que sois corrompidos, se para vós que sois criminosos, Deus concede uma cidade tão bela e tão harmônica, o que não haverá de oferecer para aqueles que lhe são fiéis?

Sorrio de felicidade, antecipadamente, e desejo que o sofrimento que me apontas venha logo, a fim de que ele me leve..."

Colocado em um subterrâneo, encontrou amigos de fé. Ali, ele se recordou de Jesus e, por várias horas falou-lhes a respeito das bem-aventuranças do reino de Deus.

Uma semana depois, milhares de espectadores lotaram o circo e a arena ovalada se encheu de feras vindas de várias partes do mundo.

Eram feras que não tinham sido alimentadas por uma semana e sobre as quais se atiravam pedaços de carne ensangüentados, cheios de vida para lhes espicaçar o paladar.

Naquela arena, os cristãos foram lançados e os animais, de forma rápida, despedaçaram aqueles corpos frágeis de anciãos, homens, mulheres e crianças, que não se intimidavam diante da morte.

Contudo, de uma forma estranha, Inácio, que se encontrava entre eles, não foi tocado. Esperou que uma patada no tórax lhe despedaçasse os ossos e os músculos. Entretanto, nenhuma fera lhe arrebentou o corpo.

Vendo que os cadáveres dos seus companheiros já estavam sendo rejeitados pelas feras saciadas, ele se ajoelhou na arena ensangüentada e orou a Jesus:

"Por quê? Por que fui poupado? Por que não tive a honra de morrer?"

Então, um ser espiritual se lhe apresentou à visão psíquica e lhe respondeu:

"Inácio, morrer é muito fácil. Perder o corpo numa só vez é um testemunho pequeno para ti. Tu, que amas tanto Jesus, mereces algo mais penoso. Tu viverás. Viverás entre pessoas que não te compreendem, que desconfiarão de ti.

Estar firme no Ideal, Inácio, no momento das dificuldades, este é o sacrifício maior. O Mestre deseja que vivas, para que a Sua mensagem saia da tua boca e experimentes a perseguição continuada, sem desanimar. A morte na arena é uma morte muito rápida para os que são bons e fiéis."

Inácio saiu da arena. Os cristãos supuseram que ele houvesse prestado sacrifício aos deuses de Roma, para ter a sua vida poupada.

A calúnia, a maledicência e a intriga semearam, na comunidade cristã toda sorte de desconfianças.

Inácio jamais se defendeu, porque quem ama Jesus não tem tempo a perder com defesas improdutivas.

Jamais se justificou, porque ele deveria prestar contas ao seu rei, Jesus, e não aos seus pares, súditos como ele.

Não disse uma palavra. Os anos demonstraram a sua grandeza. Ele passaria a ser o modelo do cristão verdadeiro, o modelo daquele servidor primitivo de Jesus, elevado à categoria de bem-aventurado por seu testemunho de amor.

Sua morte é assinalada como tendo ocorrido no ano de 110, durante o reinado de Trajano, em Roma.
 
Matéria publicada no Jornal Mundo Espírita - maio/2003

 

Bibliografia:

01.FRANCO, Divaldo Pereira. Palestra pública.

02.______. Trigo de Deus. In:___. Trigo de Deus. Pelo espírito Amélia Rodrigues. Salvador:LEAL, 1993.

03.COELHO, Rogério. O holocausto maior. Revista Reformador, Rio de Janeiro:FEB, p. 70, mar. 2001.
04.http://www.newadvent.org
www.nlink.com.br/~lume/antioquia.htm
www.terravista.pt/Portosanto/3718/biografgeocities.yahoo.com.br/montealverne/sinacio.html
www.veritatis..com.br/aartigo.asp
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domingo, 13 de maio de 2012

Manoel Philomeno de Miranda



Mais conhecido como Philomeno de Miranda, foi, por muitos anos, destacado colaborador do Movimento Espírita da Bahia, culminando com a sua eleição para a Presidência da União Espírita Baiana, em substituição a José Petitinga, quando este retornou ao Pano Espiritual, em 25 de março de 1939, em Salvador.
Manoel Philomeno de Baptista de Miranda nasceu no dia 14 de novembro de 1876, em Jangada, Município do Conde no Estado da Bahia.  Foram seus pais Manoel Baptista de Miranda e D. Umbelina Maria da Conceição.
Diplomou-se pela Escola Municipal da Bahia, hoje Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia, colando grau na turma de 1910, como Bacharel em Comércio e Fazenda.  Exerceu sua profissão com muita probidade, sendo um exemplo de operosidade no campo profissional.  Ajudava sempre aqueles que o procuravam, pudessem ou não retribuir os seus serviços. Foi tão grande em sua conduta, como na modéstia.  Debilitado por uma enfermidade pertinaz, em 1914, e tendo recorrido a diversos médicos, sem qualquer resultado positivo, foi curado pelo médium Saturnino Favila, na cidade de Alagoinhas, com passes e água fluidificada, complementando a cura com alguns remédios da Flora Medicinal. Nessa época, indo a Salvador, conheceu José Petitinga, que o convidou a freqüentar a União Espírita Baiana.  A partir daí Philomeno de Miranda interessou-se pelo estudo e prática do Espiritismo, tornando-se um dos mais firmes adeptos de seus ensinamentos. Fiel discípulo de Petitinga, foi autêntico diplomata na trato com o Movimento Espírita da Bahia, com capacidade para resolver todos os assuntos pertinentes às Casas Espíritas. A serviço da Causa, visitava periodicamente as Sociedades Espíritas, da Capital e do Interior, procurando soluções para qualquer dificuldade.  Delicado, educado, porém decidido na luta, não dava trégua aos ataques descabidos, arremetidos por religiosos e cientistas que tentavam destruir o trabalho dos espíritas.
Mesmo modesto, não pôde impedir que suas atividades sobressaíssem nas diversas frentes de trabalho que empreendeu em favor da Doutrina. Na literatura escreveu \"Resenha do Espiritismo na Bahia\" e \"Excertos que justificam o Espiritismo\", que publicou omitindo o próprio nome. Em resposta ao Padre Huberto Rohden, publicou um opúsculo intitulado \"Por que sou Espírita\".
Dedicou-se com muito carinho às reuniões mediúnicas, especialmente às de desobsessão.  Achava imprescindível que as Instituições espíritas se preparassem convenientemente para o intercâmbio espiritual, sendo de bom alvitre que os trabalhadores das atividades desobsessivas se resguardassem ao máximo, na oração, na vigilância e no trabalho superior. Salientava a importância do trabalho da caridade, para se precaverem de sofrer ataques das Entidades que se sentem frustradas nos planos nefastos de perseguições. É o caso de muitas Casas Espíritas que, a título de falta de preparo, se omitem dos trabalhos mediúnicos.
Importante conhecer-se como se deu o relacionamento do médium Divaldo Pereira Franco com esse amoroso Benfeitor. É o próprio Divaldo quem esclarece:
\"Numa das viagens a Pedro Leopoldo, no ano de 1950, Chico Xavier psicografou para mim uma mensagem ditada pelo Espírito José Petitinga, e no próximo encontro uma outra ditada pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda.  \"Eu era muito jovem e, como é compreensível, fiquei muito sensibilizado.  Guardei as mensagens, bebi nelas a inspiração, permanecendo confiante em Deus.
\"No ano de 1970, no mês de janeiro, apareceu-me o Espírito Manoel Philomeno de Miranda, dizendo que, na Terra, havia trabalhado na União Espírita Baiana, atual Federação, tendo exercido vários cargos, dedicando-se, especialmente à tarefa do estudo da mediunidade e da desobsessão.
\"Quando chegou ao Mundo Espiritual foi estudar em mais profundidade as alienações por obsessão e as técnicas correspondentes da desobsessão.
\"Fora uma pessoa que, no mundo, se dedicava à escrituração mercantil, portanto afeito a uma área de informações de natureza geral sobre o comércio.
\"Mas, tendo convivido muito com Petitinga, que foi um beletrista famoso, um grande latinista, amigo íntimo de Carneiro Ribeiro - que também se notabilizou pela réplica e tréplica com Ruy Barbosa - ele, Miranda, houvera aprimorado os conhecimentos lingüísticos que levara da Terra, com vistas a uma programação de atividades para a Doutrina Espírita, pela mediunidade, no futuro.
\"Convidado por Joanna de Ângelis, para trazer o seu contributo em torno da mediunidade, da obsessão e desobsessão, ele ficou quase trinta anos realizando estudos e pesquisas e elaborando trabalho que mais tarde iria enfeixar em livros.
\"Ao me aparecer, então, pela primeira vez, disse-me que gostaria de escrever por meu intermédio.
\"Levou-me a uma reunião, no Mundo Espiritual, onde reside, e ali mostrou-me como eram realizadas as experiências de prolongamento da vida física através de transfusão de energia utilizando-se do perispírito.  \"Depois de uma convivência de mais de um mês, aparecendo-me diariamente para facilitar o intercâmbio psíquico entre ele e mim, começou a escrever Nos Bastidores da Obsessão, que são relatos, em torno da vida espiritual, das técnicas obsessivas e de desobsessão\".
A partir daí seguiram-se outros livros sobre o problema obsessivo, classificado por Philomeno de Miranda como \"tormentoso flagício social\". Nos seus livros, caracterizados e lidos como \"romances\", encontra-se meticuloso exame da mediunidade atormentada e das patologias obsessivas, em páginas de profundo teor didático que permitem ao leitor melhor compreensão da narrativa central.
Além de Nos Bastidores da Obsessão, ditou ao médium Divaldo Pereira Franco as seguintes obras: Grilhões Partidos, Nas Fronteiras da Loucura, Loucura e Obsessão, Trilhas da Libertação, Painéis da Obsessão, Temas da Vida
e da Morte, Tramas do Destino, Sexo e Obsessão, Tormentos da Obsessão e Entre os Dois Mundos.  Philomeno de Miranda foi amigo de Leopoldo Machado, patrocinando grandes conferências desse inesquecível trabalhador, que deixou um marco de luz em sua passagem pela Terra.
Exerceu na União Espírita Baiana, hoje Federação Espírita do Estado da Bahia, os cargos de 2º secretário, de 1921 a 1922, e de 1º secretário, de 1922 a 1939, juntamente com José Petitinga e uma plêiade de grandes trabalhadores. Em 1939, substituiu Petitinga. Ele já vinha no serviço ativo daquela Federativa por mais de vinte e quatro anos consecutivos, trabalhando na administração, no socorro espiritual como grande doutrinador, nos serviços da caridade, zelando sempre pelo bom nome da Doutrina, com todo o desvelo de que era possuído.
Sofrendo do coração, subia as escadas a fim de não faltar às sessões, sorrindo e sempre animado. Queria extinguir-se no seu cumprimento.
Sentia imensa alegria em dar os seus dias ao serviço do Cristo. Sobre as suas últimas palavras, assim escreve A. M. Cardoso e Silva: \"Agora sim! Não vou porque não posso mais. Estou satisfeito porque cumpri o meu dever. Fiz o que pude... o que me foi possível. Tome conta dos trabalhos, conforme já determinei.\" Era antevéspera da sua desencarnação, ocorrida no dia 14 de julho de 1942. Querido de quantos o conheceram - porque quem o conhecia não podia deixar de amá-lo -, até o último instante demonstrou a firmeza da tranqüilidade dos justos, proclamando e testemunhando a grandeza imortal da Doutrina Espírita.


As obras de Manoel Philomeno, psicografados pela mediunidade de Divaldo Franco, têm sido publicados pela Federação Espírita Brasileira e pela Editora Leal, de Salvador. Entre os principais títulos, destacam-se:
  • Nos Bastidores da Obsessão 1970 FEB
  • Grilhões Partidos 1974 LEAL
  • Tramas do destino 1976 FEB
  • Nas Fronteiras da Loucura 1982 LEAL
  • Painéis de Obsessão 1984 LEAL
  • Temas da Vida e da Morte 1996 FEB
  • Trilhas da Libertação 1996 FEB
  • Tormentos da Obsessão 2001 LEAL
  • Sexo e Obsessão 2003 LEAL
  • Entre os Dois Mundos 2006 LEAL
  • Reencontro com a Vida 2006 LEAL
  • Entre os Dois Mundos 2006 LEAL
  • Reencontro com a Vida 2006 LEAL
  • Transtornos Psiquiátricos e Obsessivos 2009 LEAL
  • TRANSIÇÃO PLANETÁRIA 2010 LEAL
O mais recente lançamento 'Mediunidade-Desafios e Bênçãos' , 2012 LEAL
Mais uma vez, o mestre Manoel Philomeno de Miranda nos presenteia com esta extraordinária joia psicografada por Divaldo Franco, o incansável operário do Espiritismo por mais de seis décadas.
A completude – sem esgotar-se o tema –, a objetividade e a clareza desta obra não encontram par em nenhuma outra de mesmo gênero, sem que haja nisso demérito para as demais.
Aos Estudiosos, pesquisadores, aos espíritas em geral e aos médiuns em particular, este belo livro proporciona lições e orientações de inestimável valor doutrinário, ético, moral, filosófico e espiritual, constituindo-se mesmo num poderoso mecanismo de defesa as perigosas e sutis ciladas das entidades infelizes do Plano Espiritual.
Nenhum valor material paga o valor intrínseco desta grandiosa obra!
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