domingo, 8 de setembro de 2013

Lacordaire


biografia
Em junho de 1853, quando as mesas girantes e falantes agitavam os salões da Europa, depois de terem assombrado a América, em missiva a Mme. Swetchine, datada de Flavigny, ele escreveu: "Vistes girar e ouvistes falar das mesas? _ Desdenhei vê-las girar, como uma coisa muito simples, mas ouvi e fiz falar.

Elas me disseram coisas muito admiráveis sobre o passado e o presente. Por mais extraordinário que isto seja, é para um cristão que acredita nos Espíritos um fenômeno muito vulgar e muito pobre. Em todos os tempos houve modos mais ou menos bizarros para se comunicar com os Espíritos; apenas outrora se fazia mistério desses processos, como se fazia mistério da química; a justiça por meio de execuções terríveis, enterrava essas estranhas práticas na sombra.

Hoje, graças à liberdade dos cultos e à publicidade universal, o que era um segredo tornou-se uma fórmula popular. Talvez, também, por essa divulgação Deus queira proporcionar o desenvolvimento das forças espirituais ao desenvolvimento das forças materiais, para que o homem não esqueça, em presença das maravilhas da mecânica, que há dois mundos incluídos um no outro: o mundo dos corpos e o mundo dos espíritos."

O missivista era Jean-Baptiste-Henri Lacordaire, nascido em 12 de maio de 1802, numa cidade francesa perto de Dijon.

A despeito de seus pais serem religiosos fervorosos, o jovem Lacordaire permaneceu ateu até que uma profunda experiência religiosa o levou a abraçar a carreira de advogado, na Teologia.

Completando os estudos no Seminário, na qualidade de professor pôde constatar o relativo descaso dos seus estudantes pela religião. No intuito de despertar a afeição pública para a Igreja, como colaborador do jornal L'Avenir, passou a lutar pela liberdade daquela da assistência e proteção do Estado.

Vigário da famosa Catedral de Notre-Dame, em Paris, a força da sua oratória atraía milhares de leigos para o culto.

Em 1839 entrou para a Ordem Dominicana na França, trabalhando pela sua restauração, desde que a Revolução Francesa a tinha largamente subvertido.

Discípulo de Lamennais, preocupou-se em afirmar que a união da liberdade e do Cristianismo seria a única possibilidade de salvação do futuro. Cristianismo, por poder dar à liberdade a sua real dimensão e a liberdade, por poder dar ao Cristianismo os meios de influência necessários para isto. Insistia que o Estado devia cercear seu controle sobre a educação, a imprensa, e trabalho de maneira a permitir ao Cristianismo florescer efetivamente dentro dessas áreas .

Foi Membro da Academia Francesa e o Codificador inseriu artigo a seu respeito na Revista Espírita de fevereiro de 1867, seis anos após a sua desencarnação, que se deu em 21 de novembro de 1861. Nele, reproduz extrato da correspondência que inicia o presente artigo, comentando: "Sua opinião sobre a existência e a manifestação dos Espíritos é categórica. Ora, como ele é tido, geralmente, por todo o mundo, como uma das altas inteligências do século, parece difícil colocá-lo entre os loucos, depois de o haver aplaudido como homem de grande senso e progresso. Pode, pois, ter-se senso comum e crer nos Espíritos."

Em sessão realizada na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas em 18 de janeiro daquele ano, o médium "escrevente habitual" Morin, descreveu a presença do espírito do padre Lacordaire, como "um Espírito de grande reputação terrena, elevado na escala intelectual dos mundos (...) Espírita antes do Espiritismo (...)" e concluiu:

"Ele pede uma coisa, não por orgulho, por um interesse pessoal qualquer, mas no interesse de todos e para o bem da doutrina: a inserção na Revista do que escreveu há treze anos. Diz que se pede tal inserção é por dois motivos: o primeiro porque mostrareis ao mundo, como dizeis, que se pode não ser tolo e crer nos Espíritos. O segundo é que a publicação dessa primeira citação fará descobrir em seus escritos outras passagens que serão assinaladas, como concordes com os princípios do Espiritismo."

Mas ele mesmo, Lacordaire, retornou de Além-Túmulo, para emprestar à obra da Codificação a sua inestimável e talentosa contribuição.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo encontramos 3 mensagens, ditadas no Havre e Constantina, todas datadas do ano de 1863, discorrendo sobre "O bem e mal sofrer" - cap. V, item 18; "O orgulho e a humildade" - cap. VII, item 11 e "Desprendimento dos bens terrenos" - cap. XVI, item 14.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Pe. Sabóia de Medeiros

Pe. Roberto Sabóia de Medeiros nasceu no Rio de Janeiro, em 18 de maio de 1905 e faleceu em São Paulo, em 31 de julho de 1955, no dia de Santo Inácio de Loyola. Coincidência e graça para um grande jesuíta.
Uma vida consagrada a Deus e a seus semelhantes. O Pe. Sabóia ingressou na Companhia de Jesus em 1922. Foi ordenado sacerdote em 1936, em Buenos Aires, Argentina. A partir de 1939 desenvolve seu trabalho em São Paulo. Sua grande preocupação era a questão social, objeto de tantas encíclicas e ensinamentos dos Papas. Junto com o estudo e oração, a ação.
Nesta tarefa empenhou toda a sua alma, todo o seu dinamismo. E as obras, as comissões, os institutos, os centros técnicos e as escolas foram surgindo. Alceu Amoroso Lima define seu trabalho como “uma ponta de lança nas conquistas sociais”. A educação foi outra preocupação sua. Além do aprendizado de disciplinas exatas e técnicas, queria colocar à disposição de seus estudantes de administração e engenharia uma formação ligada aos valores transcendentais do homem.
"Ele não tinha um tostão" disse certa vez um de seus colaboradores. Podemos imaginar o que lhe custou em termos de tempo, paciência, ousadia, insistência, criatividade levantar os recursos para que tudo começasse a funcionar. Na busca de fundos, acabou por estabelecer enorme rede de amigos, empresários, conhecidos e benfeitores, que se convenceram da seriedade de seus propósitos. Os que com ele privaram dão notícia de um homem de temperamento exuberante, extrovertido e até “um pouco espalhafatoso”.
O que não diminuía em nada seu zelo apostólico, sua vida espiritual e atividade intelectual. Foi um grande admirador do Cardeal Newman, figura maior da Igreja da Inglaterra, de quem tinha um retrato sobre a escrivaninha. Foi ardoroso adepto do filósofo francês Maurice Blondel e leitor assíduo de Aldous Huxley. Manteve correspondência com ambos. As absorventes ocupações e os seus empreendimentos não impediram o cultivo da filosofia e teologia. A biblioteca da Ação Social, fundada por ele em 1944, e hoje recolhida na Biblioteca Pe. Aldemar Moreira, no campus de São Bernardo atesta a profundidade e a variedade de suas preocupações, que incluiam também literatura inglesa e a história da União Soviética. O Prof. Dino Bigalli, que ele trouxera da Itália, considerava-o, mais que um fundador de obras, “um pastor de almas”. Não admira que o Dr. Peter Grace, um de seus benfeitores americanos o chamasse “a man in a million”.
O Pe. Sabóia foi grande comunicador, festejado pregador. Manteve programas de rádio e escreveu artigos; não raro, segundo o gosto da época, envolveu-se em debates de grande repercussão. A Ação Social mantinha um Centro Técnico do Trabalho, que ministrava cursos de orientação social para trabalhadores, a Clínica Santo Inácio, para atender pessoas carentes, numa época em que os serviços da Previdência Social ainda não estavam organizados; uma tipografia (que hoje são as Edições Loyola) e editava as revistas “Serviço Social” e “Carta aos Padres”. Mas foi na área da educação que sua memória mantém-se mais viva e inspiradora.
A Escola Superior de Administração de Negócios, a ESAN (1941), a Faculdade de Engenharia Industrial, a FEI (1946) firmaram-se. Até hoje permanece a Escola Técnica São Francisco de Bórgia (1946). O Pe. Sabóia anteviu o desenvolvimento industrial brasileiro. Na década de 40 não existia ainda a figura do engenheiro industrial e a ESAN precedeu, em pelo menos dez anos, os cursos da Fundação Getúlio Vargas.
Idealista, sonhador, profeta. Mas igualmente pioneiro, batalhador, realizador. Para angariar recursos, conquistar benfeitores, empreendeu quatro viagens aos Estados Unidos, uma viagem à Itália e outra à Suécia. Conseguiu aparelhos, máquinas e instrumentos, mas de modo geral as contribuições ficaram aquém das expectativas. Mas em nenhum momento desanimou. Pelo contrário descobriu fórmulas, inventou caminhos, surpreendeu os céticos, enfim superou-se. Sabendo-se muito doente (leucemia), pediu a amigos de confiança que não deixassem perecer suas empresas. A Providência divina ouviu seus rogos. Apareceram muitos continuadores, principalmente o Prof. Joaquim Ferreira Filho e o Pe. Aldemar Moreira, S.J., que cuidaram bem do seu legado. Cuidaram, consolidaram e ampliaram.

Foto - Padre Sabóia de Medeiros

http://www.fei.org.br/PadreSaboiaMedeiros.aspx